terça-feira, 30 de agosto de 2011

Interrogação

"O conhecimento começa com o reconhecimento da nossa ignorância."

Lembro-me que, aos 13 anos, tive alguns colegas que estudavam inglês comigo num curso, porém bem mais velhos (mais que o dobro da minha idade) e peculiares. Um era adepto da quimbanda/satanismo, com uma personalidade forte, e o outro, um cabeludo, católico, fã de heavy metal. Ambos me apelidaram de "garoto-interrogação", e assim eu era visto por aquele pequeno grupo na minha sala de aula. Eu sempre queria saber tudo, queria entender, queria compreender. Por vezes podia ser até incômodo, por ser quase como uma criança que vai com os pais viajar para uma cidade que nunca tinha visitado antes, cheia de pontos turísticos curiosos e animadores. Falando em infância, pego-me lembrando de duas cenas que ficaram registradas em minha mente: uma, quando certa vez entrei no carro com meu pai, e tinha por volta de 8 anos de idade. Como que de forma inesperada, eu lhe perguntei "Pai, por que as pessoas acreditam em deuses?". Como diabos eu já tinha essa percepção, ou melhor, essa dúvida? Eu também, quando criança, odiava cortar as unhas, sei lá por qual motivo, então minha mãe tinha que brigar comigo ou tentar cortá-las depois que eu adormecesse. Eu achava péssimo. E me questionava, pensando algo assim: "Por que os homens são obrigados a fazer isso, enquanto as mulheres podem deixá-las crescer sem nenhuma reclamação? Qual o problema, se isso é natural nos corpos de ambos?". Talvez por ser algo incômodo para mim, eu passei a questionar isso, e, naquela pouca idade, sem muito entender, eu já estava, na verdade, criticando os paradigmas de como um homem deveria agir, do por quê as pessoas simplesmente concordavam com aquele fato que, para mim, era questionável.

Sócrates não poderia ter sido mais brilhante do que quando disse: "Só sei que nada sei.". Ou quem sabe não seja como disse a banda Helloween, numa música: "No final disso, nenhum de nós está certo". Como seres humanos, somos naturalmente arrogantes, sempre querendo saber, mas nunca admitindo quando não sabemos compreender ou explicar alguma coisa estranha ou incrível. Nesse caso, a esmagadora maioria vai sempre encontrar uma explicação ou motivo para cada coisa, dentro daquilo que conhece, dentro daquilo que entende. Não que seja necessariamente a verdade sobre aquilo, mas é uma forma que ela encontra para simplesmente não ASSUMIR e poder dizer, com honestidade e humildade: "EU NÃO SEI.". Por isso disse que a frase do Sócrates é brilhante, pois ela expõe com naturalidade e objetividade tudo aquilo que costumo sentir, tudo que costumo pensar a respeito de mim, diante da vida e do vasto universo. Não importa quantos livros eu leia, ou no que eu acredite... nunca saberei o suficiente, pois sim, sou INCAPAZ de compreender o suficiente, de compreender tudo que eu gostaria. Como eu twittei ontem, "para alguns, essa constante busca pela sabedoria pode, por vezes, lhes tirar a paz... ou lhes dar o fôlego necessário para continuar", pode lhes dar a coragem e a motivação de viver mais um dia em busca de, dentro de seus limites, conhecer e aprender um pouco mais sobre o fato incrível da vida. O fato incrível de estar VIVO.

Já falei um pouco sobre essa busca no meu outro post, mas é um assunto meio que... interminável. Acho que enquanto eu estiver vivo, eu estarei escrevendo e refletindo sobre isso. Ou ao menos citando esse ponto, comentando sobre a minha admiração pelo conhecimento, pela evolução, pela mudança. Acredito que mudar constantemente não seja uma característica de alguém com uma personalidade facilmente influenciável ou pouco focada, muito pelo contrário. É algo que demonstra a disposição de aprender, evoluir, errar, admitir a ignorância, tentar de novo, VENCER.

Falando em ignorância, lembrem-se que todos somos ignorantes. Mesmo que você seja um doutor em determinado assunto, você ainda É ignorante sobre ele. Pois você nunca, jamais, saberá TUDO sobre esse assunto, por mais que você estude e pesquise. Aliás, mesmo que isso fosse possível, você ainda seria ignorante em relação a todos os outros assuntos do mundo sobre os quais não domina. Mas que dádiva ser ignorante! É o que pode manter nossa inteligência ativa, nossa mente em busca de novidades e grandes surpresas que estão sempre pelo mundo, escondidas, como tesouros prestes a serem encontrados e apreciados por nós, que somos algo tão igualmente inexplicável.

Interrogação é a palavra que melhor me define. Que melhor define o ser humano. Que melhor define o universo. O mistério sempre continuará, seja ele para você um paraíso ou um inferno, mas lhe afirmo que poderá lhe perseguir até sua última batida do coração. Exceto se você achou uma desculpa esfarrapada para "explicar" a vida...

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